Edila
Vianna da Silva
1)
Coordenação e Subordinação: Introdução analógica
Segundo
a Norma Gramatical Brasileira (NGB), os
princípios organizadores da
frase portuguesa são a coordenação e a subordinação.
Observe:
1.
[Cheguei da escola] [e almocei logo].
(Independência Sintática e Dependência Semântica)
2.
[Almocei logo] [porque estava com muita fome]. (Dependência
Sintática da frase 2 em relação à frase 1)
Na
primeira frase cada oração
apresenta estrutura sintática completa, isto é, a presença de uma
independe da presença da outra do ponto de vista sintático:
cada uma delas contém os termos necessários para transmitir sua
mensagem, caracterizando o processo de COORDENAÇÃO. Claro está
que, entre elas, há uma dependência de natureza semântica,
de sentido, ou não estariam no mesmo período.
Na
frase (2), a primeira oração
(“almocei logo”) é a base, e a outra (“porque estava com muita
fome”) serve de termo adjacente à primeira, é função sintática
do verbo da primeira, pois expressa a causa do fato de “almoçar
logo”, caracterizando
o processo de SUBORDINAÇÃO.
2)
Subordinação:
Características Básicas
-
Segundo Duarte (2007, p. 205), “a subordinação é uma forma de organização sintática segundo a qual um termo exerce função no outro”.
-
Estar subordinado significa ser dependente sintaticamente.
-
Pode estar presente entre constituintes de oração ou entre orações, formando sintagmas.
-
Orações subordinadas são as que funcionam como membros, termos de outra oração.
Exemplos:
1.
Ela descobriu [que
os sites de aluguel de apartamentos são
fontes de inspiração] para
decorar a casa. (função de objeto
direto)
2.
Basta [escolher
a opção]
e a foto aparece. (função
de sujeito)
3)
Coordenação:
Características Básicas
-
Mecanismo por meio do qual elementos do mesmo nível* associam-se, formando uma sequência.
-
São independentes sintaticamente uns dos outros.
*
Dizemos que elementos, palavras ou orações são do mesmo
nível quando apresentam
identidade funcional e pertencem à mesma classe de palavra.
Assim, coordenam-se termos com valor de substantivo, adjetivo etc.
que tenham a mesma função sintática. Por exemplo, na frase “A
farmácia não fecha; de dia ou
de madrugada,
há sempre um funcionário a postos”, as duas locuções
destacadas estão coordenadas pela conjunção ou,
–
e formam, portanto, uma sequência –, uma vez que ambas
equivalem a advérbios e funcionam como adjuntos adverbiais de
tempo.
|
4)
Plano das Palavras e Plano da Oração
Plano
das Palavras: Em,
por exemplo, sapatos novos e
bonitos,
os adjetivos “novos” e “bonitos” desempenham o mesmo papel em
relação a “sapatos”. Se, então, exercem igual função, são
coordenados um ao outro e subordinados ao substantivo “sapatos”.
Plano
da Oração:
Cada
oração coordenada tem seus
próprios termos e, assim, não apresenta constituinte expresso por
outra oração. Vejamos os exemplos:
1.
[Às vezes, paravam o trabalho], [enxugavam o suor do rosto] [e
falavam alguma coisa tola].
2.
[Esperamos] [que vocês aprendam
os processos] [e (que) escrevam melhor].
No
período 1, há três orações, todas com sua estrutura completa,
portanto, independentes do ponto de vista sintático e, assim,
coordenadas.
No
período 2, as orações 2 e 3 estão subordinadas à oração 1 e
nela exercem a mesma função: são núcleos do objeto direto da
forma verbal “esperamos”. Vejam, elas – as coordenadas – não
são função uma da outra, mas da oração 1. Estão, portanto,
coordenadas
entre si e
subordinadas
à
oração 1.
QUADRO
RESUMIDO DA DIFERENCIAÇÃO:
Coordenação
|
Subordinação
|
Associa
elementos de mesma função
|
Cria
funções
|
Forma
sequências
|
Forma
sintagmas
|
Orações
coordenadas
|
Orações
subordinadas
|
Independentes
sintaticamente
|
Dependentes
sintaticamente
|
Estrutura
sintática completa
|
São
termos de outra oração
|
5)
Abordagem Tradicional e outras posições sobre os Mecanismos de
Articulação das Orações
Os
gramáticos
mais tradicionais seguem estritamente a NGB,
que embora tenha sido elaborada em termos de “recomendação” ao
ensino escolar, é vista pela maioria dos professores e estudiosos do
Português como uma verdadeira lei.
Norma
Gramatical
Brasileira
Com
a finalidade de uniformizar e simplificar os termos usados na
descrição dos fatos gramaticais do Português do Brasil, a
Nomenclatura Gramatical Brasileira – NGB – resultou do
trabalho de uma Comissão formada por especialistas, tais como
Celso Cunha e Rocha Lima, entre outros. Implantada por portaria do
Ministro da Educação em 1959, teve seu uso recomendado “no
ensino programático da Língua Portuguesa e nas atividades que
visem à verificação do aprendizado, nos estabelecimentos de
ensino”.
|
a)
Segundo Cunha e Cintra:
Para
Cunha e Cintra (1985, p. 578-579), que seguem a NGB, no período
composto por coordenação, as orações:
a)
são autônomas, INDEPENDENTES, isto é, cada uma tem sentido
próprio;
b)
não funcionam como TERMOS de outra oração, nem a eles se referem:
apenas, uma pode enriquecer com o seu sentido a totalidade
da
outra.
E
conclui: “A tais orações autônomas dá-se o nome de COORDENADAS
e o período por elas formado diz-se COMPOSTO POR COORDENAÇÃO.”
Quanto
ao período composto por subordinação, os autores assim se
expressam:
As
orações sem autonomia gramatical, isto é, as orações que
funcionam como termos essenciais, integrantes ou acessórios de outra
oração, chamam-se SUBORDINADAS. O período constituído de orações
SUBORDINADAS e uma oração PRINCIPAL denomina-se COMPOSTO POR
SUBORDINAÇÃO.
b)
Segundo Bechara:
Na
Moderna gramática portuguesa
(1999),
em edição mais atualizada “no plano teórico da descrição do
idioma”, de acordo com seu autor, Evanildo Bechara utiliza o
conceito de oração complexa
para
denominar o chamado período
composto por subordinação,
da visão tradicional. Em clara explicação, o gramático manifesta
seu ponto de vista:
Uma
oração independente do ponto de vista sintático como A noite
chegou (...)
pode, pelo fenômeno de estruturação das camadas gramaticais
conhecido por hipotaxe
ou
subordinação,
passar a uma camada inferior e aí funcionar como pertença, como
membro sintático de outra unidade;
O
caçador percebeu que a noite chegou.
(...)
Dizemos, então, que a
unidade sintática que a noite chegou
é
uma oração subordinada.
A gramática tradicional chama à unidade O
caçador percebeu oração
principal. Gramaticalmente, a unidade oracional O
caçador percebeu que a noite chegou é
uma unidade sintática igual a O
caçador percebeu a chegada da noite,
onde a chegada da noite
integra
indissoluvelmente a relação predicativa que tem por núcleo e verbo
percebeu,
na função de complemento ou objeto direto (1999, p. 462).
E
conclui o gramático:
A
rigor, o conjunto complexo que
a noite chegou não
passa de um termo sintático na ORAÇÃO COMPLEXA O
caçador percebeu que a noite chegou,
que funciona como objeto direto do núcleo verbal percebeu
(1999,
p. 463).
No
que respeita ao mecanismo da coordenação, que também denomina-se
de parataxe, Bechara, da mesma forma que os outros gramáticos,
considera coordenadas
as
orações sintaticamente independentes, que, por isso, poderiam
aparecer em separado:
O
caçador chegou à cidade e procurou um hotel.
ou
O
caçador chegou à cidade. Procurou um hotel.
De
acordo com o autor, é somente neste caso, na presença de um grupo
de orações da mesma camada gramatical, isto é, orações
coordenadas,
que podemos falar em orações
compostas,
grupos
oracionais ou
períodos
compostos.
c)
Segundo Azeredo:
Azeredo
(2001), ao discorrer sobre os processos sintáticos,
observa que palavras, sintagmas, orações associam-se no discurso em
virtude de variadas relações semânticas, ora intuídas pelos
participantes da situação discursiva, ora explicitadas por
diferentes meios de coesão textual, entre os quais, os pronomes,
conectores, a concordância. Por exemplo, sabemos que na oração
“Feri-me com a faca”, a ação expressa pelo verbo refere-se a um
ser, “eu”, ou de outra forma, o sujeito da oração é de
primeira pessoa, porque o mecanismo da concordância verbo-sujeito
faz com que a forma “feri” ocorra na primeira pessoa, indicando,
assim, a subordinação entre os termos sujeito e predicado.
Daí
se infere que “o processo sintático por excelência é a
subordinação, meio que consiste em prover de função as unidades
que constituem os sintagmas e os sintagmas que constituem as orações”
(2001, p. 48-49). Na estruturação sintática – por subordinação
– uma unidade da categoria X posiciona-se sob o domínio de uma
unidade da categoria Y, como na relação verbo e objeto direto, em
que o objeto é o complemento do verbo, está sob o domínio do
verbo.
De
modo nítido, o autor demonstra que a subordinação
é
um processo intra-oracional, ao passo que a coordenação se dá em
todos os níveis, uma vez que associa palavras, sintagmas, orações,
que tenham a mesma natureza. Para Azeredo – aí uma importante
reflexão para os estudos que começamos –, a coordenação
é um mecanismo antes discursivo que sintático,
pois desconhece os limites da oração; para ele coordenam-se até
parágrafos. Para distinguir da associação discursiva que vai além
da oração, chamada de associação lato
sensu,
denomina a associação discursiva que ocorre no âmbito da oração
de associação discursiva
stricto sensu (2001,
p. 116).
d)
Segundo Castilho:
Castilho
(2002, p. 131-132) considera desnecessário
o emprego do termo período e o substitui pela expressão sentença
complexa quando
duas ou mais sentenças funcionam como constituintes de uma unidade
maior, seja pela coordenação ou subordinação desses
constituintes.
O
autor estabelece os seguintes tipos de relação intersentencial na
constituição das sentenças complexas (SC):
*
SC estruturadas por JUSTAPOSIÇÃO – uma sentença se põe ao lado
da outra, sem qualquer nexo conjuncional, como em Não
fui à festa; ninguém me convidou.
*
SC estruturadas por COORDENAÇÃO – uma sentença se põe ao lado
da outra por meio de nexos conjuncionais, como em Viajei
e esqueci o trabalho.
*
SC estruturadas por ENCAIXAMENTO – uma sentença é constituinte
de outra, isto é, argumento
de
outra, como em Ela
disse [que viria à entrega dos prêmios].
(A sentença entre colchetes é argumento da forma verbal “disse”).
*
SC estruturadas SEM ENCAIXAMENTO – uma sentença estabelece uma
relação de adjunção com outra, quer dizer, está ligada a um
termo de outra, mas não é seu argumento como em Voltaremos
à atividade [depois que a greve acabar].
(A sentença entre colchetes está ligada à forma verbal
“voltaremos”, na função de seu adjunto.)
*
SC estruturadas por CORRELAÇÃO
ou PARADEPENDÊNCIA - uma sentença estabelece uma relação de
interdependência com outra, como em Estudou
tanto que ficou com dor de cabeça.
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