terça-feira, 2 de agosto de 2016

Português III – Aula 01 - Resumo: Mecanismos de articulação entre orações: coordenação e subordinação – visão tradicional e visão contemporânea

Edila Vianna da Silva

1) Coordenação e Subordinação: Introdução analógica

Segundo a Norma Gramatical Brasileira (NGB), os princípios organizadores da frase portuguesa são a coordenação e a subordinação.

Observe:

1. [Cheguei da escola] [e almocei logo]. (Independência Sintática e Dependência Semântica)
2. [Almocei logo] [porque estava com muita fome]. (Dependência Sintática da frase 2 em relação à frase 1)

Na primeira frase cada oração apresenta estrutura sintática completa, isto é, a presença de uma independe da presença da outra do ponto de vista sintático: cada uma delas contém os termos necessários para transmitir sua mensagem, caracterizando o processo de COORDENAÇÃO. Claro está que, entre elas, há uma dependência de natureza semântica, de sentido, ou não estariam no mesmo período.
Na frase (2), a primeira oração (“almocei logo”) é a base, e a outra (“porque estava com muita fome”) serve de termo adjacente à primeira, é função sintática do verbo da primeira, pois expressa a causa do fato de “almoçar logo”, caracterizando o processo de SUBORDINAÇÃO.


2) Subordinação: Características Básicas

  • Segundo Duarte (2007, p. 205), “a subordinação é uma forma de organização sintática segundo a qual um termo exerce função no outro”.
  • Estar subordinado significa ser dependente sintaticamente.
  • Pode estar presente entre constituintes de oração ou entre orações, formando sintagmas.
  • Orações subordinadas são as que funcionam como membros, termos de outra oração.

Exemplos:

1. Ela descobriu [que os sites de aluguel de apartamentos são fontes de inspiração] para decorar a casa. (função de objeto direto)
2. Basta [escolher a opção] e a foto aparece. (função de sujeito)


3) Coordenação: Características Básicas

  • Mecanismo por meio do qual elementos do mesmo nível* associam-se, formando uma sequência.
  • São independentes sintaticamente uns dos outros.

* Dizemos que elementos, palavras ou orações são do mesmo nível quando apresentam identidade funcional e pertencem à mesma classe de palavra. Assim, coordenam-se termos com valor de substantivo, adjetivo etc. que tenham a mesma função sintática. Por exemplo, na frase “A farmácia não fecha; de dia ou de madrugada, há sempre um funcionário a postos”, as duas locuções destacadas estão coordenadas pela conjunção ou, – e formam, portanto, uma sequência –, uma vez que ambas equivalem a advérbios e funcionam como adjuntos adverbiais de tempo.


4) Plano das Palavras e Plano da Oração

Plano das Palavras: Em, por exemplo, sapatos novos e bonitos, os adjetivos “novos” e “bonitos” desempenham o mesmo papel em relação a “sapatos”. Se, então, exercem igual função, são coordenados um ao outro e subordinados ao substantivo “sapatos”.

Plano da Oração: Cada oração coordenada tem seus próprios termos e, assim, não apresenta constituinte expresso por outra oração. Vejamos os exemplos:

1. [Às vezes, paravam o trabalho], [enxugavam o suor do rosto] [e falavam alguma coisa tola].
2. [Esperamos] [que vocês aprendam os processos] [e (que) escrevam melhor].

No período 1, há três orações, todas com sua estrutura completa, portanto, independentes do ponto de vista sintático e, assim, coordenadas.
No período 2, as orações 2 e 3 estão subordinadas à oração 1 e nela exercem a mesma função: são núcleos do objeto direto da forma verbal “esperamos”. Vejam, elas – as coordenadas – não são função uma da outra, mas da oração 1. Estão, portanto, coordenadas entre si e subordinadas à oração 1.


QUADRO RESUMIDO DA DIFERENCIAÇÃO:

Coordenação
Subordinação
Associa elementos de mesma função       
Cria funções
Forma sequências
Forma sintagmas
Orações coordenadas
Orações subordinadas
Independentes sintaticamente
Dependentes sintaticamente
Estrutura sintática completa
São termos de outra oração



5) Abordagem Tradicional e outras posições sobre os Mecanismos de Articulação das Orações

Os gramáticos mais tradicionais seguem estritamente a NGB, que embora tenha sido elaborada em termos de “recomendação” ao ensino escolar, é vista pela maioria dos professores e estudiosos do Português como uma verdadeira lei.

Norma Gramatical Brasileira
Com a finalidade de uniformizar e simplificar os termos usados na descrição dos fatos gramaticais do Português do Brasil, a Nomenclatura Gramatical Brasileira – NGB – resultou do trabalho de uma Comissão formada por especialistas, tais como Celso Cunha e Rocha Lima, entre outros. Implantada por portaria do Ministro da Educação em 1959, teve seu uso recomendado “no ensino programático da Língua Portuguesa e nas atividades que visem à verificação do aprendizado, nos estabelecimentos de ensino”.

a) Segundo Cunha e Cintra:

Para Cunha e Cintra (1985, p. 578-579), que seguem a NGB, no período composto por coordenação, as orações:
a) são autônomas, INDEPENDENTES, isto é, cada uma tem sentido próprio;
b) não funcionam como TERMOS de outra oração, nem a eles se referem: apenas, uma pode enriquecer com o seu sentido a totalidade da outra.
E conclui: “A tais orações autônomas dá-se o nome de COORDENADAS e o período por elas formado diz-se COMPOSTO POR COORDENAÇÃO.”
Quanto ao período composto por subordinação, os autores assim se expressam:
As orações sem autonomia gramatical, isto é, as orações que funcionam como termos essenciais, integrantes ou acessórios de outra oração, chamam-se SUBORDINADAS. O período constituído de orações SUBORDINADAS e uma oração PRINCIPAL denomina-se COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO.


b) Segundo Bechara:

Na Moderna gramática portuguesa (1999), em edição mais atualizada “no plano teórico da descrição do idioma”, de acordo com seu autor, Evanildo Bechara utiliza o conceito de oração complexa para denominar o chamado período composto por subordinação, da visão tradicional. Em clara explicação, o gramático manifesta seu ponto de vista:
Uma oração independente do ponto de vista sintático como A noite chegou (...) pode, pelo fenômeno de estruturação das camadas gramaticais conhecido por hipotaxe ou subordinação, passar a uma camada inferior e aí funcionar como pertença, como membro sintático de outra unidade;
O caçador percebeu que a noite chegou.

(...) Dizemos, então, que a unidade sintática que a noite chegou é uma oração subordinada. A gramática tradicional chama à unidade O caçador percebeu oração principal. Gramaticalmente, a unidade oracional O caçador percebeu que a noite chegou é uma unidade sintática igual a O caçador percebeu a chegada da noite, onde a chegada da noite integra indissoluvelmente a relação predicativa que tem por núcleo e verbo percebeu, na função de complemento ou objeto direto (1999, p. 462).

E conclui o gramático:
A rigor, o conjunto complexo que a noite chegou não passa de um termo sintático na ORAÇÃO COMPLEXA O caçador percebeu que a noite chegou, que funciona como objeto direto do núcleo verbal percebeu (1999, p. 463).
No que respeita ao mecanismo da coordenação, que também denomina-se de parataxe, Bechara, da mesma forma que os outros gra­máticos, considera coordenadas
as orações sintaticamente independentes, que, por isso, poderiam aparecer em separado:
O caçador chegou à cidade e procurou um hotel.
ou
O caçador chegou à cidade. Procurou um hotel.
De acordo com o autor, é somente neste caso, na presença de um grupo de orações da mesma camada gramatical, isto é, orações coordenadas, que podemos falar em orações compostas, grupos oracionais ou períodos compostos.

c) Segundo Azeredo:

Azeredo (2001), ao discorrer sobre os processos sintáticos, observa que palavras, sintagmas, orações associam-se no discurso em virtude de variadas relações semânticas, ora intuídas pelos participantes da situação discursiva, ora explicitadas por diferentes meios de coesão textual, entre os quais, os pronomes, conectores, a concordância. Por exemplo, sabemos que na oração “Feri-me com a faca”, a ação expressa pelo verbo refere-se a um ser, “eu”, ou de outra forma, o sujeito da oração é de primeira pessoa, porque o mecanismo da concordância verbo-sujeito faz com que a forma “feri” ocorra na primeira pessoa, indicando, assim, a subordinação entre os termos sujeito e predicado.

Daí se infere que “o processo sintático por excelência é a subordinação, meio que consiste em prover de função as unidades que constituem os sintagmas e os sintagmas que constituem as orações” (2001, p. 48-49). Na estruturação sintática – por subordinação – uma unidade da categoria X posiciona-se sob o domínio de uma unidade da categoria Y, como na relação verbo e objeto direto, em que o objeto é o complemento do verbo, está sob o domínio do verbo.

De modo nítido, o autor demonstra que a subordinação é um processo intra-oracional, ao passo que a coordenação se dá em todos os níveis, uma vez que associa palavras, sintagmas, orações, que tenham a mesma natureza. Para Azeredo – aí uma importante reflexão para os estudos que começamos –, a coordenação é um mecanismo antes discursivo que sintático, pois desconhece os limites da oração; para ele coordenam-se até parágrafos. Para distinguir da associação discursiva que vai além da oração, chamada de associação lato sensu, denomina a associação discursiva que ocorre no âmbito da oração de associação discursiva stricto sensu (2001, p. 116).


d) Segundo Castilho:

Castilho (2002, p. 131-132) considera desnecessário o emprego do termo período e o substitui pela expressão sentença complexa quando duas ou mais sentenças funcionam como constituintes de uma unidade maior, seja pela coordenação ou subordinação desses constituintes.
O autor estabelece os seguintes tipos de relação intersentencial na constituição das sentenças complexas (SC):

* SC estruturadas por JUSTAPOSIÇÃO – uma sentença se põe ao lado da outra, sem qualquer nexo conjuncional, como em Não fui à festa; ninguém me convidou.

* SC estruturadas por COORDENAÇÃO – uma sentença se põe ao lado da outra por meio de nexos conjuncionais, como em Viajei e esqueci o trabalho.

* SC estruturadas por ENCAIXAMENTO – uma sentença é constituinte de outra, isto é, argumento de outra, como em Ela disse [que viria à entrega dos prêmios]. (A sentença entre colchetes é argumento da forma verbal “disse”).

* SC estruturadas SEM ENCAIXAMENTO – uma sentença estabelece uma relação de adjunção com outra, quer dizer, está ligada a um termo de outra, mas não é seu argumento como em Voltaremos à atividade [depois que a greve acabar]. (A sentença entre colchetes está ligada à forma verbal “voltaremos”, na função de seu adjunto.)


* SC estruturadas por CORRELAÇÃO ou PARADEPENDÊNCIA - uma sentença estabelece uma relação de interdependência com outra, como em Estudou tanto que ficou com dor de cabeça.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Linguística III – Aula 1 - Resumo: Forma e função nos estudos da linguagem: a Linguística na década de 1960 e a "guinada pragmática"

Mercedes Marcilese
Silmara Dela Silva


1) Introdução

Quando o assunto é estudo da linguagem, cada proposta teórica decide qual aspecto será tomado como central e quais serão considerados periféricos ou não tão relevantes. Nesse sentido, as palavras de Saussure continuam vigentes até hoje: “bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto” (SAUSSURE, 2005, p. 15).


2) A Evolução do Pensamento Linguístico: Estruturalismo e Gerativismo

a) O Estruturalismo Europeu:

A linguística estrutural nasceu em 1916, com a publicação do Curso de Linguística Geral, de Saussure.
Em uma de suas ideias-chave, Saussure concebe a língua como uma organização que denomina sob o termo de sistema. Foi Roman Jakobson – de quem, com certeza, você também já ouviu falar – quem empregou pela primeira vez o termo estruturalismo, utilizando o conceito de estrutura para se referir a essa organização. Na perspectiva de Saussure, os elementos linguísticos não teriam nenhuma realidade independente da sua relação com o sistema como um todo.
Podemos dizer que, com sua demonstração da arbitrariedade do signo linguístico e com a concepção de que a língua é um sistema de valores constituído por diferenças puras, Saussure funda uma nova disciplina, autônoma em relação às outras Ciências Humanas. Essas seriam, portanto, suas principais contribuições.
No Curso, são estabelecidas duas distinções fundamentais que, em conjunto, significaram uma ruptura completa com a tradição neogramática anterior, isto é, com a linguística histórico-comparada.
A primeira é a distinção entre análise descritiva (sincrônica) e histórica (diacrônica).
A segunda diz respeito ao que Saussure denomina respectivamente langue e parole (em português, língua e fala). Enquanto os neogramáticos (Junggrammatiker) desenvolvem um estudo da linguagem, baseado no historicismo e fortemente influenciado pelas ciências naturais, Saussure traz uma proposta que privilegia a perspectiva sincrônica.
Com base na distinção em relação ao estudo sincrônico e no estabelecimento do eixo da simultaneidade, Saussure constrói a sua definição de língua como sistema. O método sincrônico constitui o novo “ponto de vista” a partir do qual Saussure cria seu objeto: a langue (em português, língua).
A abordagem saussuriana implica ainda uma outra inflexão: o fechamento da língua sobre si mesma. O signo linguístico saussuriano não é um nome associado a uma coisa, mas um conceito – significado – vinculado arbitrariamente a uma imagem acústica – o significante. Assim, a unidade de análise definida por Saussure exclui o referente e opõe-se ao símbolo. A língua fica definida como um sistema que só conhece a sua própria ordem, como uma forma e não uma substância (SAUSSURE, 1916).
A proposta de Saussure caracteriza-se por defender um estudo imanente da língua; em outras palavras, a língua deve ser estudada em si mesma e por si mesma.

Foi Roman Jakobson – de quem, com certeza, você também já ouviu falar – quem empregou pela primeira vez o termo estruturalismo, utilizando o conceito de estrutura para se referir a essa organização.
Sintetizando o que foi apresentado até aqui, podemos dizer que os princípios centrais do estruturalismo europeu, que inclui as escolas de Genebra, Praga, Londres e Copenhague, podem ser resumidos em duas noções básicas: estrutura e autonomia (BORGES NETO, 2004).
Na época em que o Curso começa a ser divulgado, nos Estados Unidos, Leonard Bloomfield propõe de forma independente uma teoria geral da linguagem, desenvolvida e sistematizada sob o nome de Distribucionalismo.
A linguística bloomfieldiana – representante central do chamado estruturalismo norte-americano – tem seu ponto de partida na Psicologia behaviorista, segundo a qual todo comportamento humano pode ser explicado segundo o esquema estímulo-resposta. Essa tese recebe o nome de Mecanicismo e opõe-se à perspectiva denominada mentalista, da qual Saussure faz parte.

b) O Estruturalismo Norte-americano:

A proposta de Bloomfield, assim como o behaviorismo de um modo geral, pode ser definida ainda como empirista. O empirismo defende a visão de que todo o conhecimento dos fatos vêm da experiência. Segundo essa ideia, ao nascer, a mente é uma tábula rasa. Nossos sentidos não só fornecem evidências para justificar nossas crenças como são a fonte inicial de conceitos que constituirão tais pensamentos.
Na perspectiva de Bloomfield, a linguagem é definida como um conjunto de hábitos verbais e, conforme os postulados behavioristas, o estudo da língua deve ser feito a partir de elementos empiricamente observáveis. Um ato de fala constitui um enunciado (utterance) e a totalidade dos enunciados que podem ser feitos numa comunidade linguística (o corpus, matéria de análise do pesquisador), conforme a língua dessa comunidade (BLOOMFIELD. In: DASCAL, 1978, p. 47).
A tese principal desta perspectiva era que a língua possuía uma estrutura, entendida como um conjunto de níveis estruturais (fonológico, morfológico e sintático). A tarefa do linguista consistiria em descrever essa estrutura, mediante procedimentos de descoberta, rejeitando tudo o que não fosse diretamente observável.
A análise distribucional (do Distribucionalismo) proposta por Bloomfield e seus seguidores consiste num estudo de corpora que tenta encontrar e descrever as regularidades de um modo sistemático e organizado. Essa análise é
feita sem levar em conta nem a função nem o signifi cado; a base para a busca das regularidades é o contexto linear (environment) de ocorrência dos elementos, ou seja, a posição dos elementos no sintagma.
A análise distribucional abrange todos os níveis, desde a fonologia até a sintaxe (com a análise em constituintes imediatos). Nesta perspectiva, as únicas generalizações possíveis sobre a língua são as alcançadas mediante INDUÇÃO (parte de casos particulares para chegar a conclusões generalizadas.) (BLOOMFIELD, 1933, p. 20).
É importante lembrar que a teorização de Bloomfield, especialmente as ideias apresentadas em seu livro Language (1933), desempenharam para a linguística norte-americana um papel tão importante quanto o Curso no contexto europeu.

c) O Gerativismo

  • surgiu no fim da década de 1950
  • como uma rejeição explícita à linguística bloomfieldiana
  • como uma crítica direta aos postulados behavioristas
  • parte do pressuposto de uma faculdade inata da linguagem formulada em termos de uma Gramática Universal
  • implica uma mudança da língua-E (língua externa) para a língua-I (língua interna)

Em outras palavras, uma passagem do estudo da língua como um objeto exteriorizado para o estudo do conhecimento da língua – as chamadas intuições do falante –, internamente representado na mente/cérebro (CHOMSKY, 1986, p. 43).
No Gerativismo, o objeto de investigação deixa de ser o comportamento linguístico e os produtos deste comportamento para passar a ser os estados da mente/cérebro que fazem parte de tal comportamento: a competência linguística (definida por contraste com o desempenho).

Chomsky critica o ponto de vista empiricista e mecanicista, e adota uma interpretação racionalista, mentalista do estudo da linguagem. Para os racionalistas, a experiência não é a fonte de todo o conhecimento, mas a mente já vem equipada com um conjunto de ideias, noções ou conceitos inatos. Esta perspectiva envolve uma mudança metodológica forte: o gerativismo privilegia o MÉTODO DEDUTIVO (faz uso da dedução para obter uma conclusão a respeito de uma ou mais premissas. Normalmente constrata com o método indutivo. Raciocínios dedutivos se caracterizam por apresentar conclusões que devem, necessariamente, ser verdadeiras, caso todas as premissas sejam verdadeiras. Exemplo: (i) Todo vertebrado possui vértebras. (ii) Todos os mamíferos são vertebrados. (iii) Logo, todos os mamíferos têm vértebras.) e postula o FALSIFICACIONISMO POPPERIANO (Também denominado falseabilidade, falsificabilidade ou refutabilidade é um conceito importante na epistemologia e foi proposto pelo filósofo Karl Popper como solução para o chamado problema da indução. Para que uma afirmação ou uma teoria possa ser refutável, deve ser possível fazer uma observação ou uma experiência física que tente mostrar que essa asserção é falsa. Por exemplo, a afi rmação "todos os cisnes são brancos" pode ser falseada pela observação de um cisne preto) como condição na formalização das suas hipóteses, e a adequação explicativa como nível de avaliação que a teoria deve atingir.

d) O que é mesmo o Estruturalismo Linguístico?

Voltemos agora à questão que fi ou em aberto: o que é mesmo o Estruturalismo linguístico? Segundo Mattoso Câmara (MATTOSO CÂMARA JR. In: FOUCAULT, 1968), podemos considerar que o Estruturalismo em Linguística constitui um ponto de vista epistemológico, defi nido fundamentalmente por um objetivo comum: consolidar a Linguística como uma ciência autônoma. O surgimento do Gerativismo, por sua vez, pode ser considerado como um outro estágio, uma nova etapa na evolução do pensamento linguístico, uma verdadeira revolução que marca uma ruptura com os desenvolvimentos anteriores de forma análoga ao que aconteceu com a proposta do próprio Saussure, em sua época.

e) Quais são as principais diferenças entre o Estruturalismo Saussuriano e a proposta de Bloomfield?

Como vimos, o objeto de estudo da linguística para cada um desses pesquisadores é radicalmente oposto. A língua para Saussure é uma entidade mental, psíquica e coletiva, social (é a mesma para todos os falantes de uma comunidade linguística). A linguagem, para objeto empiricamente observável. É, mais ainda, o corpora (conjunto de enunciados), base da análise distribucional, formado por enunciados concretos, ou seja, são parte da fala, o lado individual e físico da linguagem, segundo Saussure. Em síntese, ambas as perspectivas são opostas na medida em que Saussure tem uma visão mentalista (o objeto da Linguística é para ele uma entidade mental, forma, e não substância) enquanto que Bloomfield defende uma postura empirista e mecanicista (o objeto da Linguística é empiricamenteobservável, o resultado de um comportamento). Bloomfield, é um conjunto de comportamentos verbais, isto é, um objeto empiricamente observável. É, mais ainda, o corpora (conjunto de enunciados), base da análise distribucional, formado por enunciados concretos, ou seja, são parte da fala, o lado individual e físico da linguagem, segundo Saussure. Em síntese, ambas as perspectivas são opostas na medida em que Saussure tem uma visão mentalista (o objeto da Linguística é para ele uma entidade mental, forma, e não substância) enquanto que Bloomfield defende uma postura empirista e mecanicista (o objeto da Linguística é empiricamente observável, o resultado de um comportamento).


3) A Linguística dos anos sessenta: A Guinada Pragmática

Vamos observar que, aos poucos, o foco na estrutura abstrata da língua (como no caso da língua, para Saussure, e da competência, para Chomsky) começa a perder seu papel quase hegemônico na Linguística, ao mesmo tempo em que outrosf enômentos subjacentes relacionados à linguagem começam a ganhar um espaço de destaque em seus estudos.

Quando vinculamos a noção de pragmática à Linguística – ou seja, a ciência que se ocupa do estudo da linguagem natural –, ela pode ser definida como o campo que estuda os fatores que determinam nossas escolhas linguísticas na interação social e os efeitos que essas escolhas podem ter sobre as outras pessoas (WEEDWOOD, 2002).

Em linhas gerais, podemos dizer que a Pragmática se preocupa com a língua em uso.

São fatores de ordem pragmática os que determinam que e como dizer em cada situação específica.

São fatores que influenciam diretamente na construção dos enunciados: o interlocutor, a situação comunicativa e a própria intenção de fala~.

O desenvolvimento da Pragmática como um campo de estudos específico dentro da Linguística se relaciona diretamente às ideias de três filósofos: John L. Austin (iniciou a Teoria dos Atos de Fala), John Searle ( complementou os estudos da Teoria dos Atos de Fala) e Herbert Paul Grice (estudos sobre o significado dos enunciados – incluindo as noções centrais de implicatura conversacional, pressuposição e subentendido – e a formulação das suas Máximas Conversacionais associadas ao chamado Princípio de Cooperação, que rege toda interação verbal).

a) Teoria dos Atos da Fala de Austin

  • John Austin foi um pioneiro nos estudos pragmáticos.
  • A ideia central da Teoria dos Atos de Fala proposta por Austin pode ser sintetizada da seguinte forma: a linguagem não somente serve para descrever o mundo, também serve para fazer coisas.

Austin estabeleceu uma distinção entre dois tipos de enunciados:

(1) os assertivos, constatativos ou declarativos, que se caracterizam porque podem ser avaliados como verdadeiros ou falsos;
Ex.: O chão está molhado (pode ser avaliado como verdadeiro ou falso).

(2) e os performativos, que só podem ser avaliados segundo condições de felicidade (mas não de acordo com as condições de verdade). Os performativos não podem ser nem verdadeiros nem falsos, somente mais ou menos afortunados.
Ex.: Sim, prometo ser fiel (não pode ser avaliado como verdadeiro ou falso).

Enunciados performativos fazem exatamente o que o enunciado diz; no nosso exemplo em (2), prometer alguma coisa. Nesses casos, dizer é literalmente fazer. Temos no português uma longa lista de verbos que funcionam como performativos explícitos, ou seja, nomeiam a ação que se realiza precisamente quando é enunciada e que só se realiza através da palavra. Alguns exemplos: jurar, declarar, batizar, ordenar, rejeitar, concordar, repudiar etc. Veja as frases a seguir:

(3) Eu vos declaro marido e mulher.
(4) Eu te batizo Maria Antonieta.
(5) O júri declara o réu inocente.
(6) Sim, aceito.

No caso desses enunciados, como já dissemos, a noção de condições de verdade (vinculada à correspondência entre a afirmação de um estado de coisas e um estado de coisas determinado) é substituída pela de condições de felicidade.

O infortúnio de que estamos falando não provém de uma falta de correspondência entre linguagem e verdade, mas da falta de coincidência entre o que o enunciado diz e o que ele realmente faz.

Em outras palavras, os performativos fazem o que dizem somente se são utilizados pela pessoa certa, no momento certo e com o público certo.

Posteriormente, Austin revisou sua proposta e chegou à conclusão de que todas as sentenças – mesmo aquelas que não contêm performativos explícitos – servem para executar atos.
Por exemplo, a frase O chão está molhado é uma afirmação, embora o verbo afirmar não seja utilizado nela.
Podemos estabelecer, assim, uma distinção entre significado (o que as palavras dizem) e força do enunciado (o que as palabras fazem).

Com base nessa distinção teríamos três tipos de atos de fala (WILSON. In: MARTELOTTA, 2008):

  • ato locutório: é aquele que produz significado. Está centrado no nível fonético, sintático e de referência, corresponde ao conteúdo linguístico;
  • ato ilocutório: está associado ao modo de dizer algo e ao modo como esse dizer é recebido em função da força com que é proferido. Corresponde ao ato efetuado ao se dizer algo (afirmar, prometer, oferecer...);
  • ato perlocutório: corresponde aos efeitos causados sobre o interlocutor (influenciar, persuadir/convencer, causar constrangimento etc.)

Podemos afirmar que todo enunciado é um ato, um ato de fala. O fazer pelo dizer é tão forte que certos enunciados constituem atos que podem até alterar a situação social das pessoas envolvidas.

Essas ideias batem de frente com o pressuposto da anterioridade da existência do mundo em relação à linguagem, já que, como vimos nos exemplos anteriores, algumas vezes, a linguagem cria novas realidades, alterando assim um estado de coisas no mundo. Wilson (2008) destaca que a teoria de Austin foi central na medida em que abriu espaço para refl exão sobre o papel das convenções e práticas sociais nos atos de fala que não eram, até então, uma preocupação dos estudos linguísticos.

b) Teoria de Grice

Para Grice, a comunicação é um ato de fé, fé na linguagem, mas, especialmente, em nosso interlocutor.
Quer dizer, normalmente, numa situação comunicativa, temos confiança tanto em interlocutores conhecidos ou familiares quanto em desconhecidos e até hostis. Isso porque todos nós sabemos que, em situações normais, qualquer desconhecido prestará atenção se falarmos alguma coisa para ele. Sabemos também – talvez não conscientemente – que
qualquer interlocutor (amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido) tentará entender o que pretendemos comunicar (embora o nível de esforço feito possa variar em cada caso específico).

As coisas são desse modo porque, segundo Grice, existe entre os falantes um acordo implícito de colaboração na comunicação. Grice chama esse acordo de Princípio da Cooperação.

Esse princípio pode ser colocado de uma forma simples da seguinte maneira: faça sua contribuição na conversação relevante, atendendo ao que é solicitado, visando aos propósitos comuns e imediatos (WILSON. In: MARTELOTTA, 2008).

Desse princípio mais geral, resultam quatro máximas:

1) Máxima de quantidade = seja informativo.
2) Máxima de qualidade = seja verdadeiro.
3) Máxima da relação = seja relevante.
4) Máxima do modo = seja claro.


  • IMPLICATURAS

O princípio de cooperação serve para explicar situações como a apresentada em (10) que, de outro modo, estaria violando as máximas de quantidade (coopere de modo a informar aquilo que está sendo requerido) e relação (seja relevante na sua contribuição):

(10)
A: Você vai na festa do Pedro amanhã?
B: Amanhã é o aniversário de casamento dos meus pais. Vão fazer bodas de ouro.

A resposta de B poderia parecer inadequada, mas normalmente somos capazes de fazer um tipo de inferência específi ca pela qual esse enunciado faz sentido nesse contexto. No exemplo em (10), o falante B não diz que não irá à festa de forma explícita, mas o interlocutor certamente será capaz de compreender que esse enunciado implica que B tem outro compromisso. A compreensão de uma conversa como a apresentada em (10) depende do que Grice chama de implicaturas.

Grice distingue dois tipos principais de implicaturas: Convencionais e Conversacionais.
  • Convencionais - formam parte do conteúdo de certas expressões e não um contexto específico;
(11) Ana conseguiu passar no exame (implicatura convencional).
(12) Eles são pobres, porém honrados (implicatura convencional).

Na sentença em (11), a ideia de esforço ou dificuldade fica implícita na expressão conseguir + verbo no infinitivo.
Em (12), por sua vez, a conjunção porém indica o tipo de relação que está sendo estabelecida entre as duas partes do enunciado.

Como toda implicatura, é um significado implícito, mas elas se diferenciam das conversacionais no fato de que não requerem nenhum contexto específico para sua interpretação, estão “coladas” às construções linguísticas. Além disso, como são implicaturas – e não implicações lógicas – não exercem nenhuma influência sobre o valor de verdade da sentença em que aparecem.
Observe:

(13) Ana passou no exame.

A sentença em (13) tem o mesmo valor de verdade (verdadeiro OU falso) que o enunciado em (11), ou seja, elas significam estritamente o mesmo, mas em (11) há um signifi cado “extra” – algo do tipo Ana teve que fazer um bom esforço para passar no exame – mas que não afeta o fato básico de que, no fim das contas, ela passou no exame.


  • Conversacionais - dependem de um contexto específico.

Suponha que A e B estejam conversando sobre um amigo comum, C, que está, atualmente, trabalhando num banco. A pergunta a B como C está se dando em seu emprego, e B responde: Olha, muito bem, eu acho... ele gosta de seus colegas e ainda não foi preso. Chegado este ponto, A precisa procurar o que B estava implicando, o que ele estava sugerindo, ou até mesmo o que ele quis dizer ao dizer que C ainda não tinha sido preso. A resposta poderia ser algo do tipo: “C é o tipo de pessoa que tende a sucumbir às tentações provocadas por sua ocupação”; ou “Os colegas de C são, na verdade, pessoas muito desagradáveis e desleais”, e assim por diante. Naturalmente, será desnecessário A fazer qualquer pergunta a B, pois a resposta, no contexto, é antecipadamente clara.
As ideias de Grice chamam a atenção para o fato de que, muitas vezes, a compreensão de um enunciado depende de vários fatores contextuais, dentre os quais a intencionalidade do falante e os conhecimentos prévios dos participantes da situação comunicativa. Outra questão que ganha relevância é o fato de que a comunicação está governada por uma série de princípios ou regras implícitas que organizam a interação verbal.

Atividade de Aprendizagem:

1. Quais diferenças você poderia apontar entre perspectivas pragmáticas de estudos da linguagem, como as de Austin e Grice, e as teorias linguísticas que você já conhece, como o Estruturalismo e o Gerativismo?

2. Com base na proposta de Austin, que classifi ca os atos de fala em locutórios, ilocutórios e perlocutórios, identifique que tipo(s) de ato(s) é/são realizados em cada uma das frases a seguir.

(1) Mãos para cima! Isto é um assalto.
(2) Parabéns para você!
(3) Você deveria usar sempre roupas claras.

3. Com base na proposta de Grice para os estudos linguísticos, determine qual é o tipo de significado adicional implicatura convencional ou conversacional) presente em cada uma das sentenças a seguir:

(1) Luisa é italiana, portanto, é elegante.
(2) A: Você aceita um sorvete?
B: Estou de dieta.
(3) A: Você aceita um sorvete?
B: Estou ficando gorda.
4) Pedro não é inteligente, mas é muito esforçado.
5) Mariana parou de fumar.
6) A: O candidato é bom?
B: Ele tem uma ótima caligrafia.
7) A: O namorado da Patrícia é lindo?
B: Olha, até que ele não é feio.


Conclusão: o que precisamos compreender é que grande parte dos estudos linguísticos que se desenvolvem a partir da década de 1960 trazem para o estudo da linguagem a proposta de olhar para o fenômeno linguístico a partir de seu funcionamento, em oposição aos estudos que predominaram durante a primeira metade do século XX, e que tinham como foco a forma da língua.


4) A Dicotomia Formalismo e Funcionalismo

A disputa entre perspectivas formalistas e funcionalistas nos estudos da linguagem pode ser sintetizada como uma questão centrada na proeminência que os conceitos de forma e função recebem em cada caso.

A Metáfora de Borges Neto:

Segundo Borges Neto (2004), para um funcionalista, a lâmina do machado tem a forma que a caracteriza porque está destinada à tarefa de cortar madeira. Seguindo com essa metáfora, o raciocínio seria o seguinte: um dos nossos ancentrais primatas um dia procurou um objeto que
fosse adequado para uma dada tarefa. Achou uma pedra com forma de cunha, concluiu que seria adequada e criou o primeiro machado (sem
cabo, como os da imagem a seguir). Aos poucos, esse primeiro machado foi sendo melhorado.
Já um formalista diria que a função da lâmina é determinada pela sua forma. Em outras palavras, é por ter forma de cunha que o machado serve para cortar madeira. Em função dessa forma, a lâmina também serviria para segurar uma porta, evitando que o vento a fi zesse bater. Desta vez, o raciocínio seria: um dia, manipulando diversas pedras, o nosso ancestral reparou que aquelas com forma de cunha – que não eram boas para quebrar frutos duros ou moer sementes, por exemplo – poderiam ser úteis para cortar pedaços de madeira.
No primeiro caso, a função veio antes que a forma; no segundo a forma orientou a função.

a) Considerações sobre as diversas vertentes do Funcionalismo:
  • Os desenvolvimentos atuais da linguística funcionalista contam entre seus antecedentes teóricos mais importantes com a Fonologia de Praga, com a proposta das três funções básicas da linguagem realizada por Bülher (representativa ou referencial, de manifestação psíquica e conativa ou apelativa) e a posterior ampliação feita por Roman Jakobson, a qual você já estudou na Linguística I.
  • Nos EUA, um movimento importante surgiu na Califórnia nos anos 1970, a partir do trabalho desenvolvido por um grupo que inclui Talmi Givón, Charles Li, Sandra Thompson, Wallace Chafe, Paul Hopper, dentre outros.
  • Em Buffalo, criou-se em torno de Van Valin uma outra corrente funcionalista, chamada “Gramática de papel e de referência” (Role and reference grammar).
  • Lakoff e Langacker são os centros de uma corrente de orientação funcional-cognitiva formada em Berkeley (GORETTI PEZZATTI, 2004).
  • Moura Neves (1997) destaca que é possível distinguir entre modelos funcionalistas conservadores, moderados e extremados. O primeiro tipo se defi ne pelo fato de que aponta a inadequação do formalismo ou estruturalismo, mas sem propor uma análise da estrutura (o trabalho de Susumo Kumo se enquadraria, segundo a autora, nessa classificação). O tipo moderado não apenas aponta para essa inadequação, mas vai além e propõe uma análise funcionalista da estrutura (as propostas de Dik, Halliday e Van Valin podem ser considerados exemplos desta perspectiva). Por último, o funcionalismo extremado nega a realidade da estrutura como tal e considera que as regras se baseiam internamente na função, não havendo assim restrições sintáticas (Sandra Thompson e Talmi Givón são considerados como representantes dessa linha).
  • Provavelmente, existem tantas versões do funcionalismo quantos linguistas que se chamam de funcionalistas – denominação que abrange desde os que simplesmente rejeitam o formalismo até os que criam uma teoria própria. Nesse sentido, Elizabeth Bates disse – numa afirmação considerada bastante polêmica – que “o funcionalismo é como o Protestantismo: um grupo de seitas antagônicas que concordam somente na rejeição à autoridade do Papa”.

b) Convergências entre as diversas vertentes de Funcionalismo:

  1. Todo funcionalista assume o postulado da não autonomia; isto é, a língua (a gramática) não pode ser descrita como um sistema autônomo, já que deve ser entendida com referência a parâmetros, tais como: cognição e comunicação, processamento mental, interação social e cultura, mudança e variação, aquisição e evolução (GIVÓN, 1995 apud MARTELOTTA & KENEDY, 2003).
  2. Postula que a linguagem humana seja vista basicamente como um instrumento de interação social, utilizado para estabelecer comunicação.
  3. A hipótese fundamental é que o uso da língua, ou seja, a comunicação em situações sociais, origina a forma da língua, com as características que lhe são próprias (VOTRE & NATO, 1989). Essa ideia supõe entender a língua como um objeto maleável, probabilístico e não determinístico. A estrutura (ou forma da língua) é, nessa visão, uma variável dependente, resultante de regularidades das situações de fala. A estrutura é, portanto, derivada. Daí que os funcionalistas considerem que a estrutura só pode ser explicada levando em conta a comunicação.
c) Convergências entre as diversas vertentes de Funcionalismo Segundo Givón (1995 apud MARTELLOTTA & KENEDY, 2003):
  1. - A linguagem é uma atividade sociocultural.
  2. - A estrutura serve a funções cognitivas e comunicativas.
  3. - A estrutura é não arbitrária, motivada e icônica.
  4. - Mudança e variação estão sempre presentes.
  5. - O sentido é contextualmente dependente e não atômico.
  6. - As categorias não são discretas.
  7. - A estrutura é maleável e não rígida.
  8. - As gramáticas são emergentes.
  9. - As regras da gramática permitem algumas exceções.
d) Considerações sobre o Formalismo:

  • Pires de Oliveira (2004) aponta que o metatermo formal e seus correlatos ensejam várias linhas de pensamento na Linguística contemporânea.
  • Embora o Estruturalismo também seja considerado como um defensor da forma (vale lembrar aqui da famosa afirmação de Saussure segundo a qual “a língua é forma, e não substância”), é com relação à Teoria Gerativa que a disputa formalismo/funcionalismo encontra seu local privilegiado.
  • Nesse sentido, Halliday (apud MOURA NEVES, 1997, p. 39) considera que a tradição formal tem como principais representantes os nomes de Bloomfield e Chomsky.
  • Segundo Borges Neto (2004), a perspectiva formalista pode ser caracterizada pela priorização que dá ao estudo da linguagem humana entendido enquanto uma linguagem. Isto é, como um conjunto de formas que se relacionam entre si numa sintaxe, que se vinculam com objetos do mundo numa semântica e que servem para que os falantes expressem significados.
  • No caso da Teoria Gerativa, o objeto de estudo proposto é a a competência linguística, ou seja, o conhecimento da língua (as intuições do falante) atingido e internamente representado na mente/cérebro (CHOMSKY, 1986, p. 43).
  • A língua assim definida é um objeto autônomo que preexiste aos dados. Já o desempenho, ou seja, o uso individual do conhecimento linguístico em situações de fala concretas está fora do interesse gerativista, assim como a parole ficou fora do interesse de Saussure.

e) Diferenciação entre Formalismo e Funcionalismo:

  • O formalismo priorizaria a análise das formas linguísticas enquanto que o funcionalismo daria prioridade à relação entre essas formas e as funções que desempenham no processo da comunicação (BORGES NETO, 2004).
  • De acordo com Dillinger (1991), enquanto o formalismo se refere ao estudo das formas linguísticas, o funcionalismo se refere ao estudo do significado e do uso das formas linguísticas em atos comunicativos. Em outras palavras, o formalismo vê a língua como um sistema autônomo enquanto o funcionalismo vê a língua como um sistema não autônomo inserido em um contexto de interação social.
  • Os funcionalistas criticam o formalismo pelo fato de os formalistas estudarem a língua como um objeto descontextualizado, sem levar em consideração os falantes-ouvintes e as circunstâncias nas quais a língua é usada. Para os funcionalistas, a língua não pode ser desvinculada de suas relações com as diversas maneiras de interação social.
  • Os formalistas criticam o funcionalismo pelo fato de ele incluir, nos seus estudos, fenômenos psicológicos e sociológicos, o que fere o princípio da autonomia da Linguística em relação às outras ciências.
  • Estudar fenômenos linguísticos dentro do próprio sistema da língua foi a maneira que os formalistas encontraram de dar cientificidade e autonomia à Linguística. Nesse sentido, os fenômenos psicológicos e sociais que estejam relacionados com os fenômenos linguísticos devem ser abordados pela Psicologia e pela Sociologia (AMARAL OLIVEIRA, 2003).
  • Com relação a isso, Kato (1998) destaca que uma das principais distinções que Leech faz entre formalistas e funcionalistas é a de que os primeiros tendem a encarar a linguagem essencialmente como um fenômeno mental e os segundos, como um fenômeno social.
  • Pires de Oliveira (2004) salienta que, na Linguística atual, a diferença entre os programas teóricos gerativista (identifi cado como formalista) e funcionalista tem sido tratada como uma questão sem posições intermediárias, apesar de existir alguns intentos de conciliação (temos, por exemplo, os textos de Kato, 1998, e de Amaral Oliveira, 2003).


Atividade de Aprendizagem:



Identifique 3 diferenças que considere cruciais entre as perspectivas funcionalista e formalista nos estudos da linguagem.